sábado, 26 de abril de 2008

Chernobyl, o que tenho com isso?

Conheci um grande mestre na vida, um professor de química chamado Tetuya (Não Aldo, não é Toyota!). Tive aula com ele por dois anos no cursinho, um professor maravilhoso. Junto com o professor Covre (vulgo CSVRE), aprendi a gostar dessa matéria e graças a isso minhas notas de química no vestibular foram ótimas. Como me disse o Covre uma vez, nada que se faz com amor pode dar errado. Mesmo sendo regras de três.

Mas essa não é uma história sobre a química ou sobre as minhas notas do vestibular. Esse post é mais uma forma de homenagem e protesto que devo ao meu mestre. Hoje (26 de abril), faz 22 anos que o reator de Chernobil explodiu, levando para o mundo a primeira névoa radioativa não vinda de uma bomba nuclear.

Mapa com a expansão da névoa nuclear. Uma versão em video pode
ser buscada no youtube.


Chernobil é uma pequena cidade que fica na atual Ucrânia, uma ex-república anexada da dissolvida União Soviética (URSS). O grande problema daquela região, e de certa forma de toda a ex-URSS, sempre foi como enfrentar o inverno muito rigoroso. Durante séculos as casas eram aquecidas com carvão ou petróleo e seus derivados. Mas esses são recursos que nem sempre estavam disponíveis e nem seriam abundantes para sempre. Assim, sempre foram pensadas alternativas para aquecer o povo russo. Depois da conquista da tecnologia para a fabricação de bombas nucleares a URSS resolveu dar um fim útil a tanto investimento. Espalhou por suas terras algumas usinas termonucleares que serviriam para produzir energia para o aquecimento das casas soviéticas naquelas regiões.

Foto de um helicóptero após a explosão. Centenas de
trabalhadores (inclusive militares) foram expostos à
radiação num esforço de conter o vazamentoque durou semanas.

Seria uma história de uso racional da energia nuclear, se não estivéssemos falando da URSS no início dos anos 80. Nesse período se dava a crise no sistema socialista soviético. A população cada vez mais pobre e os grandes do partido comunista (conhecidos como burocratas) enriquecendo num sistema onde a divisão de classes não deveria existir. O povo andando de Lada (sem comentários) e os burocratas de Mercedes, isso para os mais abastados, porque os mais pobres estavam tendo sua comida racionada. Com essa crise no país ouve um sucateamento de várias áreas da URSS para cobrir as necessidades básicas da população. Sofreram grandes cortes de orçamento programas militares como o programa espacial e o de energia nuclear. Para mim, esse foi um fator determinante no caso Chernobil e não apenas funcionários relapsos. Os engenheiros responsáveis que estavam na usina não eram especialistas tem energia nuclear, eles vieram de termoelétricas a carvão.

No dia 26 de abril de 1980, ocorreu uma explosão num dos reatores de Chernobil. Durante dias nada se sabia sobre isso, a URSS encobriu qualquer notícia sobre o assunto. Nas semanas seguintes, os países vizinhos começaram a perceber uma excesso de radiação no ambiente. Contataram as possíveis usinas na Europa de onde pudesse ocorrer um vazamento nuclear. Mas em toda a Europa as usinas estavam limpas. Depois de muita insistência foi que a URSS admitiu ter umpequeno” vazamento e uma de suas usinas.

Durante toda a década de 80 nunca se soube de fato, ou não se pôde provar, o que havia ocorrido em Chernobil. Apenas com a queda do regime socialista na URSS é que tivemos acesso aos detalhes do fato.

Hoje, 2008, temos notícias de milhares de pessoas que ainda sofrem com as conseqüências de Chernobil. Milhares de crianças que nascem deformadas, milhares de abortos, milhares de mortos, milhares de diagnósticos de câncer, mutações em animais e plantas, contaminação do solo e do ar, e ainda outros fatos que não podemos relacionar com a radiação, mas que se desconfia serem causados por ela.

Nos anos de 2000 e 2001 tive com o professor Tetuya uma palestra sobre atividade nuclear. Nela, ele falava sobre as bombas de Hiroshima e Nagasaky, o acidente de Chernobil e o acidente com o Césio 147. Não tenho como descrever essa palestra, mas desde aqueles tempos tenho uma dívida enorme com o professor Tetuya. Ele realmente me abriu os olhos para uma verdade que incômoda. O fato do ser humano estar se destruindo e destruindo tudo o que está ao seu lado. Hoje encaro o meio ambiente de outra forma, e no mínimo faço de tudo para economizar recursos e reutilizá-los. A palestra terminava com a música do Secos e Molhados, Rosa de Hiroshima. E ele falando que se sentiria feliz de que se apenas um dos mais de 100 presentes mudasse sua postura com relação à natureza.

Infelizmente, em 2006 o professor Tetuya morreu. Deixando não apenas a saudade para os seus milhares de alunos e ouvintes de sua palestra, mas também conseguiu deixar uma semente em muitos deles. Uma semente que pode não mudar o mundo, mas garanto que pôde mudar a mim. Vou sempre me lembrar dele no seu Fusca 64 (que percorreu o Brasil do Rio Grande até o Pará, levando suas idéias de ecologia e respeito pelo próximo), das intermináveis regras de três, da sua paciência oriental e seu humor peculiar. Ao mestre com carinho...

Link Interessante: http://noticias.uol.com.br/ultnot/internacional/infografico/2006/04/26/ult3227u31.jhtm

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