A vida pode ser dividida em duas partes, antes e depois do Megaupload.
Claro, antes a vida poderia ser dividida em antes e depois do Gnutella,
antes e depois do Napster, antes e depois do Kazaa, antes e depois,
antes e depois. E o agora?
O final do Megaupload representa mais um baque dentro do
mundo de quem defende a livre circulação de arquivos. Essa parece uma
história que se repete, mas talvez essa seja uma história que começa a
ser rascunhada nas diferentes ideias de SOPA, PIPA, ACTA e Azeredo. As
leis atuais pregam o bom senso e a justiça, mas quando isso vem de
frente com interesses o martelo do juiz bate diferente. Mesmo que
essas leis não sejam agora aprovadas, o caminho que vemos hoje é o de
algum tipo de censura para proteção de interesses. Após o impacto do SOPA/PIPA veio o ACTA, depois
dele a funcionalidade implementada no Twitter para filtragem de termos, a lei
Azeredo que a todo momento paira sobre a cabeça dos brasileiros. Até
então, não tínhamos enfrentado tantos disparos ao mesmo tempo, e uma das
balas resvalou no Megaupload.
A prisão de .COM (Kim Dotcom) foi muito além das contravenções
sobre direitos autorais, tão combatidas pela indústria do
entretenimento. Foram amplamente divulgadas suas excentricidades, sua
mansão, seus carros, suas modelos. Colocando-o como um Al Capone
moderno, onde Chicago não é mais parte dos seus limites geográficos e
sim toda uma rede invisível de computadores que se interliga com o mundo. A todo momento o nome dos
responsáveis pelo serviço foram associados com hackers (ou piratas) e
ataques à sites.
Sim, ele fez fortuna usando material alheio. Dizem
que os seus lucros em poucos anos de atividade chegaram à $180.000.000.
Mas pensando de uma forma prática, culpar nesse momento quem recebe e
armazena arquivos de seus usuários é o mesmo que responsabilizar os
bancos pelos dólares depositados proveniente de ditadores genocidas. O
Megaupload é usado por seus assinantes para armazenar conteúdo
protegido por copyright, assim como também é usado para material legal.
Armazenar arquivos na nuvem é uma tendência, o cloud computing é
amplamente usado inclusive por grandes empresas. Tanto no Megaupload,
quanto nos bancos não existe um filtro para decidir qual conteúdo é
qual. É por isso que ele está sendo acusado?
A minha comparação com Al Capone não é do nada. Al
Capone tinha, literalmente, toda a estrutura da cidade de Chicago em sua
folha de pagamento. Dessa forma, ficava praticamente impossível
acusá-lo de crimes que só poderiam ser comprovados (investigados e
julgados) na própria cidade. Na época, o FBI então promoveu uma
investigação sobre as contas de Al Capone, terminando assim com a prisão
do mesmo sob penas federais de sonegação fiscal, muitos anos foram
adicionados para garantir que pagaria por todos os seus crimes, e dessa vez não com dinheiro.
Voltando ao nosso tempo, pirataria é ilegal, porém
ainda não tem como configurar um crime para ela. Existem inúmeras
tentativas, mas judicialmente todas podem ser refutadas, dependendo de
quanto ganha seu advogado. Acusar .COM de lavagem de diheiro foi a única
forma de prendê-lo e acabar com seu império. Sua pena, será maior do
que a de muitos assassinos. Não que ele seja um, mas agora servirá como
exemplo para aqueles que seguem seus passos. Esse ato de terror teve seu
efeito, praticamente todas as empresas similares ao Megaupload, cito o
Fileserver, FileSonic, por iniciativa própria começaram a apagar seus
arquivos e muitas a desativar seus serviços. Afinal, ninguém quer ir
parar na cadeia. E é melhor ficar com alguns milhões na conta e partir
para novas oportunidades do que perder tudo e acabar na prisão.
O fim do Megaupload é o fim de uma era, assim como o
fim de inúmeros outros serviços de compartilhamento. A certeza que
tínhamos até agora é que sempre que um sistema era fechado, novos
nasciam. Será que se essas leis forem aprovadas esse ciclo vai se
manter? Seremos novamente vítimas de empresas cobrando altas taxas por
cultura? A cultura será ainda mais elitista? Essas perguntas estão no ar
a muito tempo, quando será que vão chegar as respostas?
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Enforque-se nas cordas da liberdade.