sábado, 16 de janeiro de 2010

Google e o caso China

A notícia mais comentada no mundo da informática essa semana é o anúncio da Google encerrar suas atividades na China devido aos ataques virtuais sofridos nas últimas semanas. Além de modificações no site Google chinês, também ocorreram invasões nos servidores da empresa buscando informações sobre e-mails (GMail) dos usuários. Acredita-se que essas invasões foram promovidas pelo governo chinês como forma de procurar pessoas contrárias ao regime comunista e ditatorial do país.

A secretária de Estado norte-americano, Hillary Clinton, se pronunciou pedindo explicações para o governo chinês. Esse pedido também foi feito pela Google, mas para um país que devolve um avião-espião norte-americano aos pedaços esse é um pedido difícil de conseguir.

A grande muralha da China não é mais apenas um dos maiores monumentos da humanidade, a grande muralha hoje designa a barreira cibernética feita pelo governo chinês para bloquear o acesso à informação através da internet. Hoje o governo daquele país é capaz de interceptar e analisar o trânsito de informações de centenas de milhões de acessos. Um serviço de extrema complexidade e custo, mas que se faz necessário para uma ditadura como a chinesa. Pois, uma das formas de se manter o controle de uma população é limitar as informações e modificá-las conforme seu interesse.


O Google é uma forma de encontrar furos nessa barreira, e desde 2004, quando a empresa teve sua primeira versão para o mandarim, o governo tenta de todas as formas interferir nos índices usados pelo sistema de busca em território chinês. Para se ter uma ideia, no começo do serviço era possível encontrar informações sobre o “Tibet”, porém os links levavam para um site autorizado pelo governo e não para o link indicado. Durante um curto período, cerca de duas semanas em 2005, a Google eliminou dos seus índices chineses as entradas para essa busca. Mas depois de críticas voltou a deixá-las disponíveis, porém a todo o momento isso é uma incógnita, devido às pressões do governo.

“Não seja mau”, os fundadores da Google durante muito tempo procuraram uma frase que definisse a empresa. Em geral, se faz uma lista de intenções da empresa e isso é divulgado para que as pessoas saibam o que esperar dela. Porém, a Google sempre se mostrou diferente, e durante uma reunião essa frase estranha para os padrões empresariais se tornou o guia das ações da Google. Não ser mau virou um mantra dentro da empresa e ganhou fãs pelo mundo todo, afinal ser bom é um ideal elegante de vida.

Em 2004 era impossível pensar em uma empresa que não devesse entrar na China. Mais de um bilhão de potenciais consumidores não é um mercado de se jogar fora, e é claro que a Google não ficaria. Mas com o tempo se manter nesse mercado tem se mostrado extremamente difícil e custoso.

Tirar dos índices de busca determinada palavra não é exatamente ser bom, o mesmo se diz ajudar um governo ditatorial a perseguir pessoas. Nos últimos quatro anos a Google tem o caso China como uma pedra dentro do seu sapato. Muitos dizem que a Google fornece informações sobre usuários ao governo chinês, a própria empresa e seus defensores não acreditam nisso. Mas a linha entre não ser mau e ainda estar em território chinês parece cada vez mais difícil de ser mantida. Talvez agora a interferência do governo tenha tomado tal dimensão que fica impossível permitir não ser mal, e não ser mal ainda é uma regra da empresa.

A Google sair da China parece mostrar a perda de um grande mercado onde Yahoo! e Microsoft estão presentes. Mas com essa atitude a Google demonstra seu poder de manter a confiança de seus usuários e sair de um mercado promissor para isso. Só com o tempo é que se saberá se essa é ou não uma boa decisão, mas pelo menos sabemos que a empresa nos últimos anos ainda tem o “Não seja mau” como um ideal de peso em suas decisões.


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