sábado, 1 de outubro de 2011

Redson: Um grito suburbano

"Olho a cidade todas as suas faces
Lixos e pessoas a se misturar
Quero protestar para encontrar
O outro lado desta vida."
(Cólera)

Dizem que a cena punk no Brasil foi fake, que os punks aqui eram de butique e tudo mais. Porém, em poucos países a ideologia punk vestiu tão bem seus seguidores como aqui em São Paulo (não, não em Brasília). Vivíamos um período de grave crise econômica e social, pouco emprego, inflação a perder de vista, pouco investimento em educação e especialização, mudança cultural com o fim da ditadura. Os jovens se sentiam perdidos, e miseráveis. Um cenário perfeito se formava. E o punk veio com tudo, arrastando parte da juventude paulistana para os porões do Madame Satã.

Fábio, vocalista do Olho Seco



Lembro de quando eu era adolescente, entrando na galeria do rock em uma loja cheia de discos de punk. Ao olhar para as figuras ilustres no balcão tive uma ideia, peguei dois bottons no expositor e levei para o caixa. Um dos bottons era do Cólera, outro do Olho Seco. Quem me recebeu foi o Fábio, vocalista do Olho Seco, e um cara conversava do lado, o Redson. O Fábio me olhou com aqueles olhos esbugalhados, o que um gordinho nerd queria com aqueles bottons? E claro, me perguntou porque estava comprando aquilo. Na coragem dos meus 16 anos respondi: Porque sei quem vocês são e sei da importância de vocês na minha história (vou omitir a gageira e o nervosismo).

Cólera, com o jovem Redson nos vocais

Essa semana fui surpreendido com a morte do Redson (28 de setembro), vocalista do Cólera. Em 1982 Olho Seco, Inocentes e Cólera protagonizaram o rebento do punk rock na cidade (na verdade no país), com o lançamento do primeiro LP de músicas desse gênero, Grito Suburbano. No mesmo ano participaram do evento O começo do fim do mundo, onde pela primeira vez os punks apareceram na televisão assustando velhinhas. Na minha cabeça ainda tenho o Clemente, Inocentes, mandando a repórter da Bandeirantes ir se fuder.

Clemente, Seabra e Redson

Nesses momentos de perda é que a gente percebe que está ficando velho, nossos ídolos não estão apenas morrendo de overdose, mas indo com o caminhar natural do tempo. Eles não voltam mais, nós não voltamos mais. A vantagens de almas superiores como o Redson, é que ele fez a diferença na vida das pessoas, e suas músicas, seu respeito, seu engajamento e seus questionamentos estarão para sempre na nossa história. Bom trabalho, cara! 

Redson

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