quinta-feira, 25 de agosto de 2011

25 de agosto de 1961: Renúncia de Jânio

No dia 25 de agosto de 1961 uma vassourinha começou a varrer a democracia brasileira para debaixo do tapete. Quando Jânio renunciou ninguém imaginava o que aconteceria, pois num país dominado pelos norte-americanos seria impossível João Goulart assumir. Nesse cenário, apenas um golpe militar era o horizonte. Mas não foi.



Quem era esse tal de Jânio Quadros? Pela primeira vez um político saiu dos seus saltos de sapatos italianos e foi ter diretamente com o povo. Jãnio entendeu que era hora de fazer o povo acreditar que ele era o povo também, e esse seria seu diferencial para ganhar as eleições. Durante as campanhas fazia comícios inflamados, sua retórica é lenda, comia pão com mortadela e tubaína, apoiava os trabalhadores. Essa história te parece familiar?



Até então, políticos eram coronéis aristocratas, vindos de boa família e com educação européia. Jânio era paulista e não tinha modos frente ao eleitorado. Seu slogan "Tostão contra milhão" mostra bem isso. Também foi Jânio que pela primeira vez falou em limpar a política contra a corrupção, com sua vassourinha prometia tirar os velhos caciques do poder e acabar com o nepotismo. Foi prefeito, governador e por fim presidente, numa carreira de 7 amos.

Como presidente adotou a postura conservadora, o que agradou a princípio as elites que o temiam. Desvalorizou a moeda e inflacionou o país. Porém, teve uma política externa desastrosa. Rompeu a aliança automática com os EUA em plena crise cubana e recebeu Che Guevara revolucionário comunista. Internamente proibia rinhas de galo e uso de bíquinis em praias brasileiras. 



Jânio era um estadista popular, e como todo estadista tinha sede de poder. A ideia de renúncia se baseava no amor que o povo tinha por ele. Se Jânio conseguisse convencer o povo que ele não governava ao povo por causa de "Forças Terríveis" um golpe popular seria fácil. Mas não foi isso que aconteceu, após a renúncia Jânio esperava que o povo o pegasse nos braços e o levasse de volta ao governo com poderes absolutos. Como sempre, o povo viu a banda passar, e pensou que era algum tipo de desfile militar.



A atitude de Jânio foi um susto para todos, os militares não queriam Jango, mas não tinham um golpe em mente. Ao mesmo tempo, muitos militares não apoiavam o golpe. Por isso, foi achado um meio termo: Jango assumiria, mas para acalmar os ânimos mudaríamos o sistema de precidencialismo para o parlamentarismo. Isso limitaria os poderes de Jango e deixaria Tancredo Neves, um político mais moderado, à frente das decisões.

Com essa mudança nasceu um monstro. Os militares que queriam o golpe aprenderam a lição, e durante 3 anos se prepararam para uma das épocas mais tristes da nossa história. Em 1964 foi dado o golpe militar, algo que fora impedido em 1961 se deu de forma catastrófica.

O mais intrigante dessa história é que durante décadas, até a sua morte, Jânio não conseguiu explicar porque renunciou. Abaixo sua carta de renúncia, tão vaga e subjetiva que entrou para a história.



Fui vencido pela reação e assim deixo o governo. Nestes sete meses cumpri o meu dever. Tenho-o cumprido dia e noite, trabalhando infatigavelmente, sem prevenções, nem rancores. Mas baldaram-se os meus esforços para conduzir esta nação, que pelo caminho de sua verdadeira libertação política e econômica, a única que possibilitaria o progresso efetivo e a justiça social, a que tem direito o seu generoso povo.

Desejei um Brasil para os brasileiros, afrontando, nesse sonho, a corrupção, a mentira e a covardia que subordinam os interesses gerais aos apetites e às ambições de grupos ou de indivíduos, inclusive do exterior. Sinto-me, porém, esmagado. Forças terríveis levantam-se contra mim e me intrigam ou infamam, até com a desculpa de colaboração.

Se permanecesse, não manteria a confiança e a tranquilidade, ora quebradas, indispensáveis ao exercício da minha autoridade. Creio mesmo que não manteria a própria paz pública.

Encerro, assim, com o pensamento voltado para a nossa gente, para os estudantes, para os operários, para a grande família do Brasil, esta página da minha vida e da vida nacional. A mim não falta a coragem da renúncia.

Saio com um agradecimento e um apelo. O agradecimento é aos companheiros que comigo lutaram e me sustentaram dentro e fora do governo e, de forma especial, às Forças Armadas, cuja conduta exemplar, em todos os instantes, proclamo nesta oportunidade. O apelo é no sentido da ordem, do congraçamento, do respeito e da estima de cada um dos meus patrícios, para todos e de todos para cada um.

Somente assim seremos dignos deste país e do mundo. Somente assim seremos dignos de nossa herança e da nossa predestinação cristã. Retorno agora ao meu trabalho de advogado e professor. Trabalharemos todos. Há muitas formas de servir nossa pátria."

Brasília, 25 de agosto de 1961.

Jânio Quadros"

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